beet4u 24 de Dezembro, 1987 Sem comentários

Os The Pogues surgiram no início da década de 1980, em Londres, como uma das bandas mais singulares da música britânica e irlandesa. Num período dominado pelo pós-punk e pelo new wave, o grupo destacou-se por fazer algo aparentemente improvável: unir a energia crua do punk rock com a tradição da música folk irlandesa.

O resultado foi um som intenso, festivo, melancólico e profundamente humano — tão capaz de animar uma taberna como de contar histórias de perda, exílio, amor e sobrevivência.

Uma banda nascida da tradição… e da rebeldia

A génese dos The Pogues está intimamente ligada à comunidade irlandesa em Londres. A banda foi liderada criativamente por Shane MacGowan, poeta, cantor e principal letrista, cuja escrita combinava lirismo literário com uma frontalidade quase brutal.

Inspirados por baladas tradicionais irlandesas, mas também pelo espírito anárquico do punk, os The Pogues criaram um estilo próprio, onde violinos, acordeões e flautas conviviam com guitarras elétricas e uma atitude irreverente.

O álbum de estreia, Red Roses for Me (1984), revelou imediatamente essa identidade. Seguiram-se discos fundamentais como Rum Sodomy & the Lash (1985) e If I Should Fall from the Grace of God (1988), que consolidaram o grupo como uma referência incontornável do folk-punk.

Letras que contam vidas reais

Uma das grandes forças dos The Pogues sempre foram as letras. As canções falam de emigrantes, trabalhadores, amores falhados, noites longas, esperança, fé, álcool e redenção — sem romantizar excessos, mas também sem os esconder.

Shane MacGowan escreveu como quem viveu intensamente cada verso. A sua voz rouca e imperfeita tornou-se parte essencial da identidade da banda, transmitindo autenticidade e emoção crua.

A canção de Natal que mudou tudo

Entre toda a discografia dos The Pogues, há uma canção que ultrapassou gerações, estilos e épocas:

“Fairytale of New York” (1987)

Lançada como single e incluída no álbum If I Should Fall from the Grace of God, esta música tornou-se uma das canções de Natal mais icónicas de sempre — apesar de (ou talvez por causa de) fugir completamente ao tom tradicional da época.

Cantada em dueto por Shane MacGowan e Kirsty MacColl, “Fairytale of New York” conta a história de dois emigrantes em Nova Iorque, presos entre sonhos desfeitos, amor imperfeito e esperança persistente. É uma canção de Natal sem neve idealizada, sem coros angelicais, mas cheia de verdade.

🎄 Não fala de felicidade perfeita.
🎄 Fala de sobrevivência, de falhas humanas e de amor real.
🎄 E talvez por isso continue, décadas depois, a ser votada como uma das melhores músicas de Natal de todos os tempos no Reino Unido e noutros países.

Um legado que resiste ao tempo

Apesar das mudanças de formação, conflitos internos e pausas ao longo dos anos, os The Pogues deixaram uma marca profunda na música popular. Influenciaram inúmeras bandas e provaram que a tradição pode ser reinventada sem perder alma.

A morte de Shane MacGowan, em 2023, reforçou ainda mais o estatuto lendário da banda, levando uma nova geração a descobrir as suas canções — especialmente naquela altura do ano em que “Fairytale of New York” volta inevitavelmente a tocar.

Fonte:
1993, Temas da Actualidade
1992, Editora Planeta – De Agostini, S.A.
Aquivo Fotográfico do Instituto Geográfico de Agostini

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